Breve genealogia do espaço íntimo

as práticas da escrita de si e a ascensão do individualismo moderno

Autores

  • Nathalia de Aguiar Ferreira Campos Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)

DOI:

https://doi.org/10.17851/1982-0739.20.3.211-228

Palavras-chave:

escrita íntima, público, privado, verdade individual

Resumo

Este artigo propõe-se a rastrear as origens da prática da escrita íntima e dos demais gêneros que se ocupam da trajetória individual, com destaque para a correspondência pessoal, no contexto da emergência de uma esfera estritamente privada, na Europa renascentista, a partir de meados do século XVI, e, mais tarde, com a ascensão do individualismo moderno, no século XVIII. Convida-se a refletir acerca da estreita vinculação entre a conquista dos direitos civis e humanos, cujo marco é a Revolução Francesa (1789), e os processos de “intimização” da sociedade, que têm como sintomas a disseminação das práticas de narrativa do eu entre os indivíduos comuns e a valorização crescente de um paradigma de verdade fundado no sujeito.

 

Biografia do Autor

  • Nathalia de Aguiar Ferreira Campos, Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
    Mestre em Estudos Literários (2014), área de concentração Teoria da Literatura e Literatura Comparada, pelo Programa de Pós-Graduação em Letras: Estudos Literários, da Universidade Federal de Minas Gerais. Graduada em Letras-Português, é revisora de textos freelancer da Editora UFMG e da Fundação João Pinheiro (FJP). Atua ainda, como pesquisadora, nas áreas de Teoria e Crítica Literária e Literatura Brasileira, com foco nas linhas Literatura, História e Memória Cultural (LHMC) e Poéticas da Modernidade. Seus principais objetos de interesse gravitam pelos temas da epistolografia de escritores, escrita de si, arquivos literários e crítica biográfica. Atualmente é professora substituta na Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Campus Mariana-MG.

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Publicado

2014-12-31