"A Rainha do Ignoto", de Emília Freitas
do fantástico à utopia
DOI:
https://doi.org/10.17851/1982-0739.20.3.140-153Palavras-chave:
Emília Freitas, Literatura fantástica, UtopiaResumo
A literatura fantástica desenvolvida entre fins do século XVIII e fins do século XIX, fruto das tensões entre o espírito racionalista do Iluminismo e o renascimento do irracional impulsionado por correntes místicas e ocultistas do pensamento, foi pouco aberta a protagonistas femininas: de fato, em geral, a mulher aparece, em tais narrativas, como espectro do mal, cúmplice de Satã, mensageira da ameaça à estabilidade do homem e do real. Em A Rainha do Ignoto, de Emília Freitas, publicado originalmente em 1899, assistimos a uma reversão do papel comumente destinado às personagens femininas em narrativas não realistas do século XIX: de mensageiras do mal, elas passam a agentes do bem, atuando na interseção entre magia e técnica. Tal deslocamento na representação da figura feminina está atrelado a um deslocamento na própria narrativa – do fantástico à utopia –, o que conduz à reflexão sobre a relação entre gêneros literários e representações do feminino e, em última instância, sobre a utopia como forma de resistência frente ao apagamento ou à demonização da mulher em narrativas não realistas.Referências
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