A forma objetiva de Canaã
DOI:
https://doi.org/10.17851/1982-0739.20.2.171-180Palavras-chave:
Literatura e Sociedade, Forma Objetiva, CanaãResumo
Este ensaio demonstra que uma das maneiras significativas de estabelecer relações entre o romance e a realidade é compreender como o aspecto externo se torna parte da estrutura interna, atuando diretamente na sua problemática. Canaã, de Graça Aranha, foi classificada pela crítica como uma narrativa mal estruturada, em que as circunstâncias históricas apareciam marginalmente em consequência das divagações do autor, isto é, a obra tinha seu nível de realismo comprometido pela filosofia cósmica. Observada a discrepância entre o movimento do romance e seu sistema de noções, é possível, primeiramente, encarar tal aspecto como um defeito de composição. Contudo, em outra leitura, pode-se notar tal desequilíbrio como intrínseco à situação histórica brasileira, fazendo com que a falta de dimensão histórica da narrativa tenha fundamento histórico ela mesma, tornando-se forma literária. Assim, percebemos a forma objetiva do romance, evidenciado que nem a obra nem o artista escapam à materialidade de seu tempo.Referências
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